
Em 2020, o Brasil se consolidou o país mais ansioso do mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde ( OMS), quase 20 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade.
O DSM-V, que é o Livro de Diagnóstico de Transtornos Mentais, define a ansiedade como um estado de vigilância permanente em que o indivíduo antecipa uma ameaça futura, provocando uma série de perturbações comportamentais, como fuga ou esquiva, causando um aumento na tensão muscular. Enquanto o medo é uma resposta emocional à ameaça iminente real ou percebida, a ansiedade é uma antecipação de ameaça futura (American Psychiatric Association, 2014).
O medo é uma reação emocional, automática e de curta duração, frente a uma situação de perigo real e concreto; enquanto a ansiedade é um medo subjetivo, complexo, imaginário. A ansiedade se torna uma doença quando o estado de tensão e preocupação são frequentes ou permanentes mesmo sem motivo aparente, gerando prejuízos a nível psicológico, social e físico. Silva (2017) diz que, a ansiedade patológica surge em nossa vida como uma sensação constante de que alguma coisa vai acontecer , inesperadamente, fazendo com que o indivíduo permaneça num estado de alerta constante; e que existe um tipo de ansiedade que não está ligada a nossos instintos, mas que está ligado aos valores sociais aos quais somos submetidos desde muito cedo.
O indivíduo ansioso não só evita ou foge das situações a que está sensibilizado, mas ainda se mostra inibido em relação a muitas outras atividades: contatos interpessoais, em geral, atividades profissionais fora de sua rotina, etc. (Fernandes et al, 2014).
A ansiedade patológica desencadeia respostas desajustadas em situações corriqueiras, influenciando na qualidade de vida das pessoas. Castillo et al (2000) afirma que os transtornos ansiosos são quadros clínicos em que esses sintomas são primários, ou seja, não são derivados de outras condições psiquiátricas.
“A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como patológicos quando são exagerados, desproporcionais em relação ao estímulo, ou qualitativamente diversos do que se observa como norma naquela faixa etária e interferem com a qualidade de vida, o conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo. Tais reações exageradas ao estímulo ansiogênico se desenvolvem, mais comumente, em indivíduos com uma predisposição neurobiológica herdada.” ( Magrelli, 2014).
Melo e Lima (2020) afirmam que ansiedade é diferente de transtorno de ansiedade. A ansiedade é uma manifestação humana natural, e, em geral, o indivíduo consegue lidar com ela. Mesmo que ela fique exacerbada em função de uma doença, tal como pacientes que sofreram uma perda ou uma doença grave, necessariamente ela não será caracterizada como transtorno. Contudo, quando os sintomas causados pela ansiedade se intensificam e o indivíduo não consegue mais lidar com eles sem que cause prejuízos à sua vida, há o transtorno de ansiedade. (Melo & Lima, 2020).
Lowenthal (2013), diz que o principal fator de risco para o desenvolvimento dos transtornos de ansiedade em idade precoce é a ocorrência de o pai ou a mãe da criança ter transtorno de ansiedade ou depressão; ressaltando uma predisposição neurobiológica herdada. Existe uma tendência hereditária a suscetibilidade de diversos genes à ansiedade, o meio onde se vive e o estresse podem acionar tais genes.
Ela pode ainda estar relacionada ao sistema de neurotransmissores noradrenérgicos e serotoninérgicos, onde a serotonina tem um importante papel na sua regulação; (Barlow & Durand, 2015). “Uma predisposição genética já foi estabelecida para muitos dos transtornos de ansiedade, apesar de os genes específicos ainda não terem sido identificados. Outros transtornos de ansiedade parecem ter suas raízes em eventos estressantes da vida.”(Magrinelli, 2014). A predisposição genética não é um fator determinante para o desenvolvimento de um Transtorno de ansiedade; mas que combinado a outros aspectos, como um ambiente desfavorável e conflitos interpessoais, o desenvolvimento da patologia pode ser precoce. Barlow e Durand (2015), elucidam que a ansiedade é mediada por contribuições de ordem biopsicossociais, as quais vão desde o estresse da vida cotidiana, até ser influenciada pela desregulação de neurotransmissores, bem como pode ser herdada geneticamente, fatores os quais podem ativá-la.
Referências
Castro, C. J. de, Junqueira, S. M. da S., & Cicuto, C. A. T . Anxiety , Depression and Stress in times of pandemic: a study with high school students. Research, Society and Development, [S. l.], v . 9 , n. 10 , p. e8649109349, 2020. DOI: 10.33448 /rsd-v9i10.9349. Disponível em: https://www.rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/9349. Acesso em: 8 feb. 2021.
Barros, M. B. de À. et al. (2020) Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online]. v. 29, n. 4 [Acessado 8 Fevereiro 2021], e2020427. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1679-49742020000400018>. ISSN 2237-9622. https://doi.org/10.1590/S1679-49742020000400018.
Baptista, Américo, Carvalho, Marina, & Lory, Fátima. (2005). O medo, a ansiedade e as suas perturbações. Psicologia , 19 (1-2), 267-277. [Recuperado 11 fevereiro 2021]
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20492005000100013&ln g=pt&tlng=pt.
American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 (5a ed.; M. I. C. Nascimento, Trad.). Porto Alegre, RS: Artmed.
Silva, Ana Beatriz Barbosa. (2017). Mentes Ansiosas: medo e ansiedade nossos de cada dia.
São Paulo: Principium.
Barlow, David H.; Durand, Mark R. Transtornos de ansiedade. In.: Psicopatologia: Uma abordagem integrada. Tradução Noveritis do Brasil. Revisão Técnica: Thaís Cristina Marques dos Reis. 2ª edição. São Paulo: Cengage Learning, 2015. p. 125-130;
Nascimento, Célia Regina Rangel. (2001). Relações entre a resposta de ansiedade de pais e mães e a resposta de ansiedade de seus filhos. Estudos de Psicologia (Campinas) , 18 (2), 17-28. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2001000200002
Leusin, Joanna Ferreira, Petrucci, Giovanna Wanderley, & Borsa, Juliane Callegaro. (2018).
Clima Familiar e os problemas emocionais e comportamentais na infância. Revista da SPAGESP , 19 (1), 49-61. Recuperado em 09 de abril de 2021, de
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702018000100005&ln g=pt&tlng=pt.
コメント